terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Abracadabra" não é apenas um espetáculo de teatro. É também uma experiência em que o público participa ativamente da construção da peça e, como um rato de laboratório, é testado até o fim.

O resumo do espetáculo consiste no papel que cabe ao espectador: algumas pessoas recebem as lanternas que serão, única e exclusivamente, a iluminação do teatro. Elas decidem o que receberá atenção, escolhendo entre iluminar o rosto do ator ou a frestinha da porta do camarim.

Em Maringá, muitos estranharam seu papel em silêncio. Alguns preferiram iluminar o rosto dos outros e pensaram serem novamente crianças. Outros, ainda, não entenderam a proposta e, exatamente por sua ignorância, rejeitaram-na.

O ator Luiz Päetow propõe um jogo de palavras que não necessariamente conta uma história. Eventualmente surgem frases de efeito, interessantes ou engraçadas, que descontraem o público.

Cortar-se em cena chocou mais do que sair dos fundos do teatro, num ar sombrio, com 40 lanternas iluminando em todas as direções. Uma hora depois, Päetow passa a fazer longas e silenciosas pausas, entremeadas por falas improvisadas, deixando em evidência o comportamento do público. Aí têm início as cenas mais interessantes.

Constrangido, boa parte do público demora a conseguir levantar e ir embora, precisando do empurrãozinho dos mais corajosos. Entre aqueles que ficam instaura-se uma competição para ver quem resistirá mais tempo, como se o último a sair fosse o vencedor de uma prova importante.

Na Cidade Canção, algo de bizarro aconteceu. Rapazes e moças com ares “paz e amor” deixaram aflorar seu lado mais autoritário. Por algum motivo misterioso, botaram na cabeça que a peça acabaria quando todas as luzes se apagassem. Não se conformaram com as pessoas que queriam ficar e tentaram obrigá-las a sair na base da provocação.

A resposta do ator a esse desrespeito – por parte de um pequeno grupo, é preciso deixar claro – foi o silêncio total. Imóvel no centro do palco, a pele clara realçada pela roupa escura, ele apenas esperava a última lanterna se apagar. Quase quatro horas depois, as portas do teatro se fecharam e muitas cabeças se abriram para novas possibilidades.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário